Reboco, rejunte e coisas que sedimentam a pesquisa em Cultura Pop
- Thiago Soares
- 29 de jan.
- 3 min de leitura

A gente aqui do GruPop sempre ficou se perguntando qual o nosso lugar no - digamos - “ecossistema” da Cultura Pop. Às vezes, dava um “tilt” e a gente queria acompanhar “a última novidade”, “o último lançamento”, as coisas mais recentes que estavam bombando nas redes, tentando dar conta de uma série de fenômenos que, por serem profundamente contemporâneos, pareciam sempre fugidios. E eram. Aliás, são. Para isso, novos filmes, discos, premiações e afins, existe o jornalismo que cobre Cultura Pop, os formadores de opinião, os influencers - alguns, raros, mas sim, eles existem. E para pesquisa em Cultura Pop tem a gente - e um conjunto de grupos de pesquisa que temos profunda interlocução - LabCult da UFF, CultPop da Unip, Chaos da UFBA, Laboratório Pop da Universidade de Córdoba, Sense da ESPM, para citar só alguns.
Caiu a ficha de que a gente é um grupo de pesquisa, que a pesquisa é mais lenta do que a “vida real”, que precisamos de tempo pra refletir, pra debater, pra contemporizar. E que queremos entender para onde a Cultura Pop aponta em debates nos campos científicos: como produtos da Cultura Pop “torcem” a Comunicação, a Antropologia, a Sociologia, as Artes. “Por que as Ciências Sociais e Humanas precisam se preocupar com o Pop?” é uma pergunta que a gente vem insistindo em fazer com respostas que mudam sempre. Há treze anos, lá atrás, quando a gente começou, a resposta talvez fosse mais ingênua. O mundo mudou, o cinismo reina, a extrema direita está aí para todo mundo ver, a performance parece ser uma das lentes mais eficazes para dar conta das incoerências dos “tais caquinhos do Velho Mundo” - como diz aquela música. E tamos insistindo em tentar fotografar o tornado do pop de dentro, no meio do furacão.
A gente só vai entender os vultos do tornado se unir forças. Para isso, nos reunimos semestralmente para debater textos teóricos, em encontros com pesquisadores de todos os níveis acadêmicos na UFPE - da iniciação científica ao pós-doutorado. Essas reuniões são fechadas porque elas revelam andamentos de pesquisas, enfoques, torções teóricas e metodológicas. Mas a cada dois anos, a gente abre a casa, faz um café, bolinho, liga a cam e convida pesquisadores, pesquisadoras e geral pro nosso simpósio Popfilia. Agora em 2025 chegamos à terceira edição do Popfilia um pouco cansado dos textões, da realidade, do esvaziamento político de algumas “causas”, desconfiando um bocado e apostando na fantasia e na vertigem.
A nossa casa também está de pintura nova, reforçamos o reboco, fizemos uns rejuntes e construímos um novo site para receber vocês com artigos, reflexões, conceitos para ajudar quem quer começar a pesquisar Cultura Pop. Tentamos deixar tudo mais fácil e acessível, mas não cobrem muitas postagens nas nossas redes sociais porque, alto lá, a gente tá fazendo pesquisa, já falamos, pesquisa demanda tempo - e também somos “filhos de Cher” e precisamos nos divertir.
Enquanto o mundo gira, a gente aperta o pause, coloca a cena de um clipe, uma sequência de um filme, tenta escutar a alma de uma música. Estamos de mãos dadas com a pausa. Só se consegue fazer ciência com detimento, responsabilidade, invenção e alguma dose de ousadia. Dá trabalho, precisamos de financiamento, de bolsas e de saúde mental em dia. Nada fácil, estamos tentando, arriscando, olhando pro abismo e loucos para pular e voar como Thelma & Louise.
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